
Dário César tem 15 anos, e vive no Bairro de Inhangome – um dos mais pobres e periféricos da cidade de Quelimane. O adolescente frequenta a 8ª classe na Escola Secundária Aeroporto Expansão, no centro da cidade de Quelimane. Para lá chegar deve, todos os dias, atravessar a ponte do rio Inhangome, que separa o seu bairro de mesmo nome, e o rio do Chuabo Dembe. Este último fica na margem do centro da cidade. Até chegar a escola, Dário gasta aproximadamente duas horas no caminho.
Recentemente, quando Dário tentava atravessar o rio, a caminho da escola, teve um acidente que quase lhe custou a vida. “Eu estava com meus amigos. Quando chegamos na ponte vimos que a água a tinha coberto, não era possível ver bem a ponte”, conta Dário, descrevendo o cenário que encontrou na ponte de madeira, que garante a ligação entre o seu bairro e o resto da cidade, e que neste momento encontra-se em elevado estado de degradação.
“Tivemos medo de atravessar porque não era possível ver as tábuas”, referiu. E acrescentou: “Pedimos ajuda a um pescador que estava com sua canoa ali perto. Ao tentarmos atravessar o rio, a canoa virou e todos caímos na água”, revela.
O pior não aconteceu, porque todos os que estavam a bordo sabiam nadar, e conseguiram escapar. Mas não sem consequências.
“Perdi todo o meu material escolar! Como não tenho mochila, estavam nas minhas mãos. E na hora de nadar tive de os deixar. Assim não vou a escola”, recordou o adolescente, com o semblante carregado de tristeza.
A solução encontrada por Dário e seus companheiros para atravessar o rio tem sido usual entre os moradores de Inhangome que, diariamente, correm risco de vida. É que a ponte que garante a ligação entre Inhangome e o resto da cidade encontra-se em elevado estado de degradação, chegando mesmo a ficar parcial ou completamente submersa sempre que chove, ou quando os níveis das águas do mar sobem.
Quando os petizes despedem os pais para ir à escola em dias de chuva, um clima de incerteza instala-se no seio dos familiares.
“Meu filho tentou atravessar de canoa porque não tinha outra escolha. Graças a Deus ele e seus amigos conseguiram se salvar”, lamenta Lurdes Andrade, mãe de Dário, doméstica, moradora de Inhangome.
“Estamos a chorar por causa daquela ponte, pedimos que reabilitem ou construam nova”, clama. “Mesmo os professores da escola primária daqui do bairro não entram quando a maré está alta”, revela.
O problema não só incomoda os moradores de Inhangome, mas também aos que diariamente exercem suas actividades laborais naquele bairro. Tal é o caso dos professores afectos à Escola Primária Completa de Inhangome, que não conseguem entrar no bairro para dar aulas em dias de maré alta ou chuvoso.
“A travessia tem sido difícil sobretudo quando a maré está alta ou em tempo chuvoso. Atravessar de canoa tem sido uma alternativa mas não é

Director da Escola de Inhangome
eficaz pois temos ouvido casos de naufrágio, exemplo a do rio Chipaca”, disse o Director da Escola Primária Completa de Inhangome, João Ernesto.
“Apelamos a quem de direito para que reabilite ou construa nova ponte antes que esta caia. Assim que a ponte ceder e ruir não teremos alternativa se não parar de exercer nossas actividades e aguardar pela reabilitação”, Adverte.
Em torno do assunto, o Director de Estradas do Conselho Municipal da Cidade de Quelimane, António Mundeia, disse que a sua instituição está ciente dos desafios que os munícipes de Inhangome enfrentam na travessia da ponte e, sem avançar data, referiu que já existe um plano no município para a reabilitação da mesma.
“Estamos a trabalhar junto dos nossos parceiros para garantir uma transitabilidade segura para os munícipes. Para garantir segurança seria necessária uma ponte de betão que pode custar aproximadamente sete milhões de meticais e estamos a trabalhar para ter pelo menos mínimas condições”, disse o representante do Conselho Municipal.
Enquanto as obras de reabilitação ou construção da ponte não arrancam, os utentes vão arriscando suas vidas diariamente.
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